Cineasta israelense faz
documentário sobre caráter de teste de armas nos bombardeios sobre Gaza
"The
Lab", documentário do diretor Yotam
Feldman, produzido para o Canal 8 de Israel, explica toda a ensandecida ofensiva
sobre a população de Gaza: "a cada
operação militar, novas armas são testadas, gerando um aumento direto das
vendas no mercado internacional.
Após cada guerra, na qual são testadas novas armas, as
vendas dessas armas aumentam e os lucros são muito grandes", conclui o cineasta de 32 anos, que
levou 3 anos e meio na produção do filme de 58 minutos: "a prosperidade da economia israelense não ocorre apesar das
guerras, mas sim, em grande parte, em decorrência das guerras. Na minha pesquisa
descobri que, do ponto de vista econômico, as guerras não são uma carga, mas
uma fonte de lucro”.
Para entender
esses bombardeios que podem configurar crimes de guerra, segundo o Conselho de
Direitos Humanos da ONU, há que ir fundo na investigação do peso da indústria
bélica israelense, que hoje responde por 25% de suas exportações e está num
crescente tão expressivo, que já ultrapassa a França, quarta maior vendedora de
armas do mundo, atrás dos Estados Unidos, Rússia e Alemanha.
Hoje em dia as
vendas do setor bélico são calculadas em 9 bilhões de dólares, o que representa
cerca de 25% do total das exportações israelenses. Isso sem falar num Exército regular de 161mil e 500 soldados, com gastos militares de U$ 9,4 bilhões anuais
(US $ 1.499, por habitante) igual ao Brasil, que com seus 287 mil e 600 efetivos,
consumia US $ 9,6 bilhões anuais, numa relação de US $ 55 por habitante, segundo
números do International Institute for Strategic Studies.
De acordo com
Ehud Barak, ministro da Defesa de 2007 a 2013, cerca de 150.000 famílias em
Israel (quase 1 milhão dos 8 milhões de habitantes) se sustentam da indústria
militar. "De certa forma, toda a
sociedade israelense sai ganhando com a exportação militar, que, por sua vez,
ganha credibilidade com os testes realizados
nas guerras", afirma Feldman, que também menciona o fato de muitos dos
fundos de pensão no país investirem nas ações sólidas da indústria de
armamento.
Os mesmos impulsos em
busca do "espaço vital"
busca do "espaço vital"
Numa
configuração que compromete toda a heróica história do povo judeu, o Estado de
Israel vive os mesmos impulsos da Alemanha nazista na busca do seu "espaço
vital". Seus "falcões" não escondem tais objetivos quando se
lançam na expansão dos assentamentos na
Cisjordânia, em território que seria palestino, e na construção de cidades
paralelas onde árabes-israelenses vivem, como Nazareth, junto ao Mar da Galileia.
Um muro que já tem 70 quilômetros de extensão deve chegar a 800, abrangendo uma
área ainda maior do que a do Estado de Israel, hoje.
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Avigdor Lieberman quer limpeza étnica em Gaza |
"Não há outra escolha e o
Estado de Israel deveria seriamente considerar a possibilidade de reconquistar
toda a faixa e organizar uma limpeza de verdade”, afirmou em junho em entrevista à
rádio Voice of Israel. "A
longo prazo, não haverá escolha, a não ser tomar alguma ação", disse o
líder do Ysrael Beiteinu (Israel é nosso lar), partido coligado ao Likud,
formado em sua maioria por migrantes vindos da Rússia e Europa Oriental.
Em Israel, vozes influentes se levantam
contra o expansionismo bélico
contra o expansionismo bélico
A expansão na
direção de um espaço vital ampliado é condenada por uma fração cada vez maior
da população israelense e de judeus pacifistas espalhados pelo mundo. Um conhecido
especialista acadêmico de Jerusalém, Zeev Sternhell, escreveu sobre os últimos
acontecimentos, que “a ocupação continuará, será confiscada a terra
aos seus proprietários para ampliar os colonatos, o Vale do Jordão será limpo
de árabes, a Jerusalém árabe ficará estrangulada pelos bairros judeus, e
qualquer ato de roubo e insensatez que seja útil para a expansão judia na cidade
será bem recebido pelo Tribunal Supremo de Justiça. Está aberto o caminho para o
apartheid, e não será barrado até
que o mundo ocidental coloque Israel perante uma escolha inequívoca: ou se põe
fim à anexação e se desmantelam os colonatos e o estado dos colonos ou será
isolado”.
De Cambridge,
onde é professor emérito de linguística e filosofia no Instituto Tecnológico de
Massachusetts, Noam Chomsky relatou a insatisfação dos israelenses, que
realizaram manifestações em 11 cidades do país contra a ofensiva e em defesa do
reconhecimento do Estado palestino:
"Na Cisjordânia, Israel continuará a
apropriar-se daquilo que considere valioso — água, terra, recursos — dispersando
a limitada população palestina, ao mesmo tempo que integra estas aquisições no
Grande Israel. Nele inclui-se a “Jerusalém” enormemente ampliada que Israel anexou,
violando os preceitos do Conselho de Segurança, tudo o que há no lado israelita
do muro de separação ilegal, os canais a Leste que criam cantões palestinos
inviáveis, o Vale do Jordão, de onde de forma sistemática se expulsam os
palestinos e se estabelecem colonatos, e os enormes projetos de
infra-estruturas que unem todas estas aquisições a Israel propriamente dito".
"O caminho não leva à África
do Sul, mas a um aumento da proporção de judeus no Grande Israel que está a ser
edificado. Esta é a alternativa oposta a um acordo sobre dois estados. Não há
razão para esperar que Israel aceite um Estado palestino que não deseja".
"Todos sofrem com essa
situação, tanto nós quanto eles (os palestinos) e do lado deles morreram hoje mulheres
e crianças e isso me entristece muito", disse Orna, a um canal de TV
israelense, acentuando: "Basta que você diga que quer paz e já te atacam. Me dói que
morram entre eles civis. Mas parece que em tempo de guerra você tem que ser
solidário e dizer apenas vamos vencer, vamos vencer. Não posso dizer isso".
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Orna Banai: uma voz contra a guerra |
"O fato de expressar empatia
por quatro meninos mortos atrai tantas respostas violentas e odiosas que mostra
como nossa sociedade afundou. Gostaria de sair do armário: quando uma criança é
morta dói, não importa se ela era israelense ou palestina, de Ashkelon ou Gaza", escreveu Shira em sua página do
Facebook.
Outra artista
que se tornou alvo de críticas é a cantora Achinoam Nini, conhecida como Noa.
Num de seus shows na semana passada, na Espanha, ela fez questão de discursar
sobre a situação:
"Estamos pagando o preço pelo
fracasso e a covardia de líderes políticos e religiosos, que nos traíram, tanto
árabes e judeus, por não fazer de tudo para evitar a violência. Nenhuma
desculpa é aceitável"
disse ela.
Apesar das represálias,
muitos saúdam a coragem das artistas que fogem do entendimento oficial
amplamente apoiado. Em artigo no jornal Haaretz,
o ex-ministro Yossi Sarid escreveu: "Nossos agradecimentos a muitas
mulheres e homens que abriram mão do direito de ficarem em silêncio e cumpriram
seu dever para com o Estado e a sociedade".
Eu vi com meus próprios olhos: os "falcões" radicalizam cada
vez mais
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Milhares de israelenses foram as ruas pedindo acordo de paz |
Em Telavive e
Jerusalém os pacifistas não tinham muitas esperanças devido ao fluxo de
migrantes orientais, que traziam uma grande carga de radicalismo e estavam de
olho nos novos assentamentos. No norte de Israel, onde existem 70 municípios de
população árabe, o pessimismo também era grande. O governo havia baixado
decreto proibindo os não judeus de adquirirem propriedades, enquanto mantinha
as prefeituras locais sem recursos do orçamento nacional. Em abril de 2002,
Israel declarou que a Cisjordânia e a Faixa de Gaza seriam repartidas em oito
áreas principais, entre as quais os palestinos não poderiam se mover sem sua
permissão.
Bombardeios não poupam nem escolas,
nem hospitais
nem hospitais
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Escola destruída em Gaza servia de abrigo à população civil |
Todo esse fermento explosivo torna crônica e cada vez mais cruel a utilização do poderio bélico, cada vez mais sofisticado, com o extermínio de populações civis, vistas como aliadas do Hamas. Nestes dias, em que se contabilizam 796 vítimas civis, entre as quais 170 crianças, os bombardeios não poupam nem escolas e hospitais. Hoje, dia 24, 15 pessoas morreram e outras 200 ficaram feridas num ataque a uma escola das Nações Unidas em Beit Hanoun, no Norte da Faixa de Gaza.
Mais cedo, a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos havia publicado em sua conta no Twitter que outra instituição de ensino, em Deir Al Balah, foi atingida por um bombardeio e cinco pessoas teriam ficado feridas. Na quarta, forças israelenses haviam lançado bombas sobre o Hospital Wafa, alegando que o Hamas estava disparando foguetes de lá. Fazem pouco mais de 15 dias da nova ofensiva: em 2009, foram mortos 1.300 civis.
A chefa
humanitária da ONU na área, Valerie Amos, manifestou extrema preocupação com a
situação na Faixa de Gaza, e ressaltou que um cessar-fogo é “vital”. Segundo
ela, 44% do território palestino foi declarado zona proibida pelo exército
israelense,e “não restam muitos locais para onde as pessoas possam ir”. Além
disso, a coordenadora ressaltou que os moradores estão ficando sem comida.
— Temos
mais de 118 mil pessoas abrigadas (já chegam a 130 mil), em 86 escolas da ONU
no momento. As pessoas estão ficando sem comida, e a água também é uma
preocupação séria — destacou Valerie, acrescentando que a situação em Gaza é
“terrível”. — O trauma que estão vivendo é terrível. Nos dois últimos dias, uma
criança morreu a cada hora. Todos deveríamos nos sentar por um momento e pensar
nisso — declarou a funcionária da ONU.
Armas químicas contra palestinos em Gaza
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Veja denúncia sobre uso de armas químicas nos bombardeios |